
Reté: Corpo–arquivo (série de 3)
Fotografia - Registro de performance
Materiais: urucum, peneira e natiá
Fotografia: Helena Alves
20 x 30 cm cada
2025
Quantos grãos de urucum cabem
entre uma bisa indígena,
uma avó cabocla
e uma neta urbana?
Quantas peneiradas
para filtrar a memória
da diáspora?
O joelho no chão é régua e compasso -
calcula o espaço vazio
onde o fio vermelho,
cicatriz que ancora,
teima em não se romper.
O urucum escorre como escrita ancestral - cada grão vermelho que atravessa a peneira do tempo reativa códigos apagados na pele. O vestido branco, página rasurada pela história, recebe a tinta vermelha das origens: urucum como histórias roubadas, sementes de Natiá como cordão que protege e que nunca se rompe. Ajoelha-se para escutar a terra ditar, em pigmento, as narrativas que o tempo não apagou. O urucum escorre como correção histórica: cada partícula vermelha que marca a pele é prova irrefutável de que o arquivo pessoal e de Pindorama está incompleto.
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Notas:
- Reté: Nome recebido em batismo guarani pelo pajé e cacique Agostinho Karai Tataendy Oka em 2009, na aldeia Araponga (Paraty/RJ). Na cultura Mbya Guarani, "Reté" significa "corpo" e também se refere à terra.
- Pindorama: Nome nativo para o Brasil, originário da língua tupi.
- Natiá: Nome indígena para a semente "Capim Rosário" ou "Lágrima de Nossa Senhora" (Coix lacryma-jobi).

